terça-feira, 16 de março de 2021

Carta pra quem vai sentir saudade.

Em 2019 descobrimos que não somos nada,  uma doença viral que começou do outro lado do mundo em dias contaminou todos os países. Um vírus desconhecido, sem medicação, sem vacina... A única que sabíamos que deveríamos fazer era "lavar as mãos, usar álcool em gel, usar máscaras e distanciar das pessoas". Muita coisa podíamos ter feito para impedir como proibir voos internacionais, fechar o comércio, esperar até chegar uma vacina. Mas a política não pensa nas pessoas,  só no lucro. Deram um auxílio remunerado que não compra nem uma cesta básica, o povo teve que voltar a trabalhar, as roubalheiras em Brasília são visíveis e ninguém faz nada, o mundo começa a inventar vacinas mas o presidente do Brasil ofendeu todos os países que poderiam vender fazendo a vacina não vir e depender de outros políticos para chegar alguma vacina. Estamos a mais de um ano em um caos dessa doença. Ninguém respeita o distanciamento, não há vacina para a maioria, não há remédio certo para tratar, falta material nos hospitais,  quartos, oxigênio... Em um ano já morreram 280.000 brasileiros e não há previsão de parar. 
Eu passei um ano distante do que há lá fora. Sou obesa, hipertensa, cardiopata, tenho hipotiroidismo...  e uma tristeza tão grande que não cabe mais em mim. Mas a tristeza não é só minha,  estamos todos assim. Todo mundo perdeu alguém. 
Mas hoje eu descobri que eu também estou contaminada e isso me levou a um questionamento. Eu que sempre falava que não tinha medo de morrer,  agora lamento tudo isso. 
Estou pensando em tudo que eu nunca tive e lamento. 
Tenho 40 anos e eu nunca amei e nunca fui amada. Nunca me entreguei pra alguém sem pensar. Nunca tive alguém pra chamar de meu. Eu queria viver um romance, ter uma vida a dois...  Filhos. Eu sou uma excelente tia,  acho que merecia. Queria viajar, liberdade. Conhecer todos os lugares que eu estudei, tudo que conheço e desejo ver de perto. Como eu queria morar em Londres. Aprender a dirigir, sempre quis dirigir perto da praia ouvindo um som maneiro ou uma estrada. Queria ver ao vivo pelo menos um dos meus atores preferidos. Vou morrer podendo falar que sou jornalista, mas nunca atuei na minha área e tenho medo de morrer sem fazer isso. 
Mas uma coisa eu posso morrer tranquila porque eu sempre fui uma garota legal com todo mundo. Engraçada, politicamente pelo social, altruísta... Fiz muita coisa pela minha família e sou grata pelo que eles me deram. 
Eu um dia queria ganhar um prêmio e quando eu fosse agradecer com certeza seria:
Pro Amor
Mainha
Marcia
Marla
Marcelle
Mariana
Julia
e todos os que um dia sentiram no seu coração que eu ajudei.